Decreto de lei 11.300/22. A logística reversa do vidro e o impacto nas marcas que vendem e importam produtos embalados em vidro.

Uma Nova Realidade: Metas de Reciclagem e Conteúdo Reciclado

A legislação estabelece metas ambiciosas e progressivas, considerando a disparidade regional no Brasil. As marcas precisam garantir que as embalagens de vidro colocadas no mercado sejam recicladas proporcionalmente nas regiões onde são consumidas e tenham o destino correto nas vidrarias. Além disso, as industrias produtoras de embalagens de vidro devem integrar cacos reciclados em suas produções, enfrentando barreiras logísticas e técnicas.

Metas Regionais de Reciclagem

As metas regionais visam distribuir de forma proporcional a responsabilidade de reciclagem em todas as regiões do Brasil, considerando a infraestrutura disponível. Regiões como Norte e Nordeste apresentam metas menores devido às limitações logísticas, enquanto o Sudeste e o Sul lideram com objetivos mais ambiciosos.

Por exemplo, no ano de 2025, a meta nacional para o índice de reciclagem é de 32%. Desse total, a região Norte ela é de apenas 3,25%, enquanto no Sudeste atinge 12,5%. Para uma marca que vende 1.000 toneladas de vidro no mercado brasileiro em 2025, será necessário garantir que ao menos 50 toneladas saiam da região norte do Brasil lá e sejam destinadas corretamente e recicladas em uma indústria transformadora de vidro. isso representa um desafio operacional, financeiro e logístico gigante, uma vez que as recicladoras estão longe de onde o vidro foi consumido.

Metas de Conteúdo Reciclado

O índice de conteúdo reciclado em embalagens também cresce progressivamente, começando com 26% em 2023 e atingindo 33% em 2030. Este é um desafio técnico significativo, especialmente para o vidro branco, que exige maior pureza no material reciclado. A segregação precisa ser feita com tecnologias avançadas e de alto custo, como sensores óticos, para atender aos requisitos de qualidade industrial.

O Papel das Marcas: O Que Deve Ser Feito

Cumprir as exigências do Decreto 11.300/22 exige mais do que terceirizar responsabilidades a programas específicos de logística reversa. As marcas precisam entender “onde estão” no cenário atual e liderar iniciativas para garantir conformidade. Isso envolve desde auditorias internas até o desenvolvimento de estratégias regionais e de conteúdo reciclado.

Passos Estratégicos:

Auditoria e Planejamento Interno

a) Mapear o volume vendido vs reciclado de embalagens por região e compreender o impacto das metas regionais e custo relacionado a coletar e trazer o vidro de longa distancia.

b) Realizar um diagnóstico completo de gaps logísticos e operacionais por região e tamanho do impacto financeiro

c) Estruturar planos de ação que integrem cooperativas, beneficiadores e parceiros logísticos.

Fortalecimento de Infraestrutura

a) Investir em tecnologias para a segregação de cacos, especialmente para atender às especificações do vidro branco.

b) Parcerias com cooperativas e hubs regionais para garantir acesso e aumentar a disponibilidade de materiais recicláveis em todas as regiões.

Engajamento do Consumidor e do Varejo

a) Marcas e redes varejistas devem promover iniciativas de coleta e conscientização do consumidor final.

b) Criar incentivos para que o vidro seja devolvido de forma adequada, como campanhas de logística reversa em supermercados.

Parcerias Estratégicas

a) Estabelecer contratos com beneficiadores e indústrias recicladoras para atender às metas de conteúdo reciclado.

b) Colaborar com outras empresas do setor para criar soluções logísticas compartilhadas.

Desafios e Soluções Possíveis

Desafios:

Disparidade Regional: No Norte e Nordeste, a falta de infraestrutura e coleta seletiva torna o cumprimento das metas especialmente desafiador. Municípios precisam se envolver.
Custo Logístico: A regra dos 250 km para transporte de vidro reciclável até as vidrarias impõe limitações significativas, aumentando os custos operacionais.
Barreiras Técnicas: A produção com conteúdo reciclado, especialmente para vidro branco e âmbar, exige tecnologias avançadas que nem todos os beneficiadores possuem. Planejar a demanda de matéria prima de acordo com a marcha de fornos é importante.
Responsabilidade do Varejo: Redes varejistas ainda não estão suficientemente engajadas em apoiar a logística reversa, dificultando a operacionalização em larga escala.

Soluções:

Estratégias Regionais: Foco em hubs menores para consolidar materiais em regiões mais afastadas e otimizar o transporte.
Incentivos Fiscais e Subsídios: Governos podem apoiar financeiramente empresas que investem em infraestrutura e tecnologia de reciclagem.
Adoção de Tecnologias: Beneficiadores e cooperativas devem investir em sensores óticos e trituradores móveis para aumentar a eficiência operacional.
Educação Ambiental: Campanhas educativas devem envolver consumidores e grandes geradores, como bares e restaurantes, para melhorar a adesão ao descarte correto.

Caminhos para a Sustentabilidade

O Decreto 11.300/22 representa uma oportunidade única para transformar a cadeia de reciclagem de vidro no Brasil, mas exige um esforço coordenado entre marcas, varejo, beneficiadores e consumidores. Para as marcas, o desafio vai além da conformidade legal; trata-se de assumir uma liderança proativa na construção de uma economia circular robusta e inclusiva.

Os avanços dependerão de um equilíbrio entre inovação tecnológica, parcerias estratégicas e educação ambiental. Aqueles que souberem aproveitar essa oportunidade não apenas atenderão às exigências regulatórias, mas também fortalecerão sua posição no mercado como líderes em sustentabilidade e responsabilidade ambiental.

E você, como sua empresa está se preparando para atender a essas metas e aproveitar essas oportunidades? Bora conversar?